Analistas projetam segundo semestre com volume embarcado maior, mas ainda há dúvida sobre preços médios de tonelada
O consumo de carne bovina dentro da China está menor do que os exportadores brasileiros esperavam para o pós-pandemia, informa a Datagro. Segundo dados do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais do país compilados pela consultoria, o quilo da da proteína foi vendido por menos de 72 yuan (cerca de R$ 49) nos últimos dias, aquém dos 78 yuan (R$ 53) do começo deste ano.
“Havia uma expectativa muito grande de retorno da demanda com a reabertura chinesa, mas ela não veio”, afirma João Otávio Figueiredo, líder de pesquisa da Datagro Pecuária.
Figueiredo diz que a demanda chinesa costuma aumentar no segundo semestre — cerca de 60% do volume é importado nesse período. Nesse período, importadores começam a formar estoques para o Ano-Novo Lunar, feriado mais importante do país.
“Mas volume não é preço. É só ver a Argentina que performou bem durante o embargo ao Brasil, mas não viu preços melhores”, afirma o analista da Datagro. Outro problema é a alta do real em comparação com o dólar, que encarece o produto brasileiro no mercado internacional.
A tonelada de carne bovina caiu de mais de US$ 7 mil em meados do ano passado para algo em torno de US$ 5 mil no mês passado. “E tem chinês querendo negociar a US$ 4,5 mil. A indústria vai ter que transferir [essa queda dos preços] para o boi de exportação”, explica.
Segundo ele, no melhor cenário, a arroba do boi deve ficar em R$ 270 em outubro. No pior, perto dos R$ 250 por arroba — uma queda de R$ 100 em relação aos patamares de 2022.
O recuo do preço do boi gordo dificulta traçar uma tendência para o confinamento de gado no país, segundo a StoneX. De um lado, os principais custos da atividade — boi magro e milho — estão nos menores patamares em quase três anos. Do outro, a curva futura na B3 indica uma arroba a R$ 265 no terceiro trimestre, bem abaixo dos níveis de anos atrás.
A arroba caiu nos últimos meses devido à virada do ciclo da pecuária, que aponta para um aumento gradativo na oferta de animais, com maior participação de fêmeas no abate.
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), em maio, pelo quarto mês consecutivo, as fêmeas representaram a maioria (52,6%) dos animais abatidos. Nos últimos dois anos, a participação foi de 39,1% e 37,3%, respectivamente.
A StoneX diz que é pouco provável que falte gado pronto para abate neste trimestre. “Apesar do boi gordo ter se desvalorizado neste último ano, o recuo do boi magro e do milho foram ainda mais significativos, o que contribui para a margem do confinador”, diz, em relatório recente.
Segundo a consultoria, o possível aumento da demanda interna por carne bovina — em função do barateamento da proteína no país — deve surtir pouco efeito sobre os preços do boi. “Isso porque o crescimento da oferta está sendo superior a esse crescimento na demanda interna”, diz a empresa.
Nesse sentido, o Rabobank diz que a tendência de perda de poder de compra deve se manter nesse ano, mesmo com maior oferta e preços menores de carne bovina.
Comparando maio de 2023 com o mesmo período do ano passado, a carne bovina caiu 5,2%, segundo a Stonex, enquanto o suíno ficou 4,8% mais barato e o frango recuou apenas 1,7%.
Fonte: https://globorural.globo.com/pecuaria/boi/noticia/2023/07/demanda-limitada-por-carne-bovina-na-china-pressiona-boi-brasileiro.ghtml